Biografia
Filho de Isolina Christoni e de Antônio de Toledo Piza, ferroviário, Ary Toledo nasceu em Martinópolis, no estado de São Paulo, mas foi criado em Ourinhos, onde seu avô materno, o imigrante italiano Ângelo Christoni, era cidadão influente.[2] Mudou-se para São Paulo aos 22 anos, quando começou a atuar como ator no Teatro de Arena. Cinco anos mais tarde, ingressou na carreira humorística, onde permanece até os dias atuais.[3]
Cantor de estilo satírico, passou a apresentar shows, em que conta inúmeras anedotas. Antes da chegada da internet, Ary chegou a compilar mais de 30 mil piadas que contava em shows, discos, programas de TV e livros. Torcedor do Corinthians, muitas das frases de português atrapalhado atribuídas ao folclórico presidente do clube paulista Vicente Mateus, foram criadas, adaptadas e popularizadas por Ary Toledo.[3][4]
Em pleno período militar, disse em uma de suas apresentações: "Quem não tem cão, caça com gato e quem não tem gato, cassa com ato" referindo-se ao Ato Institucional V. Imediatamente, foi preso e logo liberado, devido ao grande carisma que tinha (inclusive junto a seus opressores). Ary Toledo é considerado um dos maiores humoristas brasileiros de todos os tempos.[3]
Foi casado por mais de 40 anos com a atriz, diretora de teatro, crítica musical, jurada musical Marly Marley, conhecida jurada do Programa Raul Gil, morta em 2014.[3]
Considera-se que seu início para a vida artística deve-se à mãe que, aos 12 anos, deu-lhe de presente uma gaita de boca. Posteriormente, Ary Toledo foi aluno de Jamil Neder, que lhe ministrou aulas de violão. Jamil, que também foi mestre de Vânia Bastos, é pai do professor e músico Hermelino Neder. Aos 22 anos, mudou-se para São Paulo, onde começou a carreira como ator no Teatro de Arena. Sua primeira canção foi composta no início dos anos 60, e a primeira gravação musical em disco ocorreu em 1965, com "Tiradentes", composição com a qual fez grande sucesso à época.[5] Participante assíduo de programas musicais de televisão, projetou-se como cantor com a canção "Pau-de-Arara", composta por Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. "Pau-de-Arara", que era parte da trilha musical de uma peça de teatro, conta, de uma forma bem humorada, as mazelas da dura vida de um retirante nordestino. O protagonista, para sobreviver, fazia shows em praça pública onde comia lâminas-de-barbear, cacos de vidro etc. A música unia humor e crítica às desigualdades sociais, associadas à migração de nordestinos para outras regiões.
Escreveu e atuou ainda em várias peças, tendo trabalhado com Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal. Seu principal parceiro na composição de músicas é Chico de Assis.
Tendo conhecido Vinícius de Moraes e Elis Regina, foi aconselhado por estes a seguir a carreira de humorista. Mais tarde tornou-se humorista e piadista, onde permanece até os dias atuais, sendo muito identificado por suas piadas de conteúdo obsceno.[5]
Em um relato pessoal, Ary Toledo diz que o humor é um dom que lhe acompanha desde a infância: "Aos nove anos, estava jogando bola-de-gude, com meus amigos, quando o padre Arnaldo chegou e, vendo que estávamos numa rua de terra, com poeira, ele perguntou onde era o correio. Eu expliquei a ele e depois ele, sutilmente, sugeriu que nós saíssemos da rua, cheia de pó e fôssemos à Igreja para que nos ensinasse o caminho de Deus. Disse a ele que não ia coisa nenhuma, pois se ele não sabia o caminho do correio, como podia saber o caminho de Deus? Ele achou graça e disse que eu era muito espirituoso. Na época, eu não sabia que estava fazendo humor! Faleceu no dia 24/08/2013", afirmou Ary certa vez em uma entrevista.[3][6]
Piadista
Papagaio boca-suja: personagem frequentemente presente nas piadas contadas por Ary Toledo
Apesar de ter tido uma brilhante carreira como ator, foi na comédia que Ary Toledo tornou-se nacionalmente famoso. Interpretando piadas e anedotas de conteúdo vulgar e obsceno. Muito apreciadas pelo público por serem divertidas, o piadista arrebata em seus espetáculos, grandes plateias.[7]
Suas piadas normalmente estão baseadas em temas sexuais ou no humor negro e no politicamente incorreto. Durante a época da ditadura, havia uma espécie de acordo com os censores. Os humoristas evitavam temas políticos e podiam fazer mais humor pornográfico. "Fui detido várias vezes. Quando foi promulgado o Ato Institucional V, eu dizia no show que "quem não tem cão, caça com gato e quem não tem gato, caça com Ato." Por esta declaração, Ary foi preso, mas liberado pouco tempo depois. A relação com os censores era curiosa, pois eles eram fãs de Ary e pediam desculpas.
Dentre os temas abordados em suas anedotas e piadas, frequentemente são citados animais falantes (principalmente os papagaios). Outros temas recorrentemente tratados por Ary Toledo em seus espetáculos são a suposta ingenuidade dos portugueses,[8] a inocência (ou a falta dela) presente nas crianças, a malícia de certos profissionais, tais como médicos, a hipocrisia de líderes religiosos e a falta de decoro dos políticos brasileiros. Obviamente, trata-se de menções com propósitos humorísticos, não devendo ser levadas a sério pela plateia que acompanha a apresentação do artista.
Além dos espetáculos em salas de teatros, as piadas de Ary Toledo também podem ser ouvidas em CDs ou lidas em livros de anedotas que reúnem coletâneas de centenas de piadas do autor.[9]
Ary alega ter mais de 60 mil piadas no seu computador e considera-se um "garimpeiro do humor".[6] A música é o principal passatempo de Ary Toledo, que toca vários instrumentos e já teve inúmeras músicas gravadas por grandes cantores.[6] Além dos livros e discos, Ary ainda faz muitos espetáculos e convenções.[6][10]
Músicas
Ary Toledo gravou diversas canções humorísticas, destacando-se entre elas:[11]
A moda do Zé - Relata, de forma divertida, a história de uma jovem e bela mulher que confiou em um sujeito chamado José (Zé), que a abandonou depois de tirar a sua virgindade.[11]
Dona Maroca - Versa sobre o gato de uma senhora, chamada de Dona Maroca, que machucou sua gata ao tentar cruzar com a felina.[11]
Linda Meu Bem - Ary canta sobre um sujeito que, embora tenha uma mulher de péssima aparência, a considera uma pessoa de beleza singular.[11]
Mataram Meu Carneiro - Canção onde um sujeito lamenta a morte trágica de um carneiro, pelo qual tinha estima.[11]
Melô do Pinto - Nesta música, Ary Toledo faz uma homenagem ao órgão sexual masculino.[11]
Modinha da Bacena - Mais uma canção relatando a divertida história de um sujeito chamado José, que engravida uma mulher, tirando a sua virgindade.[11]
O Rico e o Pobre - Ary Toledo faz uma crítica social sobre como o poder aquisitivo faz com que as mesmas ações possuam denominações diferenciadas quando praticadas por ricos e pobres.[11]
Vendedor de Bucetas - História de um sujeito que comercializava vaginas, como se fossem frutos em uma feira livre.[11]
Pau de arara - Relato de um retirante cearense que migra para o Rio de Janeiro, mas acaba se dando mal.[11]
Rosinha - Canção de amor cômica.[11]
Ary Toledo a Todo Vapor
Ary Toledo a Todo Vapor é o espetáculo de piadas escrito pelo humorista para comemorar os seus 45 anos de carreira.[7]
Um dos pontos altos da peça é um monólogo que, segundo o próprio Ary, demorou seis meses para ser concluído. Trata-se de um diálogo entre um garçom e o cliente com 552 palavras, todas começadas com a letra "F".[7] No mesmo espetáculo, o humorista realiza uma apresentação denominada "A Burocratização", na qual satiriza a série de procedimentos burocráticos existentes no Brasil.
O espetáculo conta ainda com duas canções interpretadas por Ary Toledo e uma série de piadas e sátiras políticas.[7]
Apresentações
Pobre menina rica (de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes).
A criação do mundo segundo Ary Toledo (com Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal). Teatro de Arena, SP.
O comportamento do homem, da mulher e do etc.
Tamanduá come formiga, elefante leva fama (com Chico de Assis). Teatro de Arena, SP.
Ary Toledo com a corda toda. Teatro Zaccaro, SP.
Fábrica de risos, Japão e Estados Unidos.
Fábrica de risos. Teatro João Caetano, RJ.
Obras
Descobrimento do Brasil (com Chico de Assis)
Modinha de ser
Ovos que a galinha pôs
Tiradentes
Os Textículos de Ary Toledo (A Anarquia da Filosofia) (2011)
2º Textículos de Ary Toledo (Aprecie sem Moderação) (2016)
Discografia
Ary Toledo no Fino da Bossa (1968/1988) - RGE FERMATA LP
Ary Toledo - Antologia do Sexo (1979) - Copacabana LP
Ary Toledo Pois é (1982) - Copacabana LP
Ary Toledo - Na Base do Riso Explícito (1985) - Copacabana LP
Ary Toledo ao vivo (1968) - RGE LP
Ary Toledo a Todo Vapor (2008)
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